O mulato
Com a publicação de O Mulato, em 1881, Aluísio Azevedo introduz o Naturalismo na literatura brasileira e faz uma crítica anticlerical e antirracista da sociedade provinciana do Maranhão.
Em o Mulato, Azevedo realiza uma severa crítica social através da sátira dos personagens típicos de São Luís. Os comerciantes grosseiros, as senhoras de escravos sádicas, as velhas beatas e fofoqueiras e o padre sedutor, maquiavélico e assassino são apenas alguns exemplares de uma sociedade apodrecida e racista. Ao se inspirar em pessoas de São Luís que de fato conhecia, Azevedo despertou a ira da sociedade maranhense e, embora louvado por críticos do Rio de Janeiro, teve que sair da sua cidade natal temendo maiores represálias.
No anticlericalismo evidente na obra, ele ainda apresenta alguns resíduos românticos. Aluísio Azevedo, na reta final da campanha abolicionista, idealiza a figura do mulato Raimundo, que pouco retém, na pele, das suas origens negras – “grandes olhos azuis, cabelos pretos e lustrosos, tez morena e amulatada, mas fina" – e é moralmente impecável. A trama central repete o estereótipo romântico do amor que luta contra o preconceito e as proibições familiares.
O romance O Mulato inicia-se com uma descrição da cidade de São Luís do Maranhão: “Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam; as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes; as paredes tinham reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças de água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios; e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçadas, invadiam sem cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontrava viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho.”
É nesse