O medo social
(Jurandir Freire Costa – adaptação)
A cultura da violência no Brasil segue regras próprias. Ao expor as pessoas a constantes ataques à sua integridade física e moral, ela começa a gerar expectativas, a fornecer padrões de respostas. Episódios truculentos e situações-limite passam a ser imaginados e repetidos com o fim de caucionar a idéia de que só a força resolve conflitos. A violência torna-se um item obrigatório na visão de mundo que nos é transmitida. Cria a convicção tácita de que o crime e a brutalidade são inevitáveis. O problema, então, é entender como chegamos a esse ponto. Como e porque estamos nos familiarizando com a violência, tornado-a nosso cotidiano.
Em primeiro lugar, é preciso que a violência se torne corriqueira para que a lei deixe de ser concebida como o instrumento de escolha na aplicação da justiça. Sua proliferação indiscriminada mostra que as leis perderam o poder normativo e os meios legais de coerção, a força que deveriam ter. Nesse vácuo, indivíduos e grupos passam a arbitrar o que é justo ou injusto, segundo decisões privadas.
Em segundo lugar, a cultura da violência, valorizando a utilização da força, constrói uma nova hierarquia moral. O universo social simplifica-se monstruosamente entre fortes e fracos. Quem ocupa a posição de agressor é objeto de temor e ódio por parte da vítima e quem ocupa a posição de vítima é objeto de desprezo e indiferença por parte do agressor. Pouco importam as características físicas, psíquicas ou sociais dos sujeitos.
Em terceiro lugar, na montagem social violenta, perde-se pouco a pouco a noção do que é risco real ou potencial. Todos se sentem vulneráveis; todos buscam atacar primeiro; todos vivem sob o temor da represália. O clima de insegurança generaliza-se. É daí que nasce o medo social, o pânico, com características fóbicas. A palavra violência vira uma entidade. O invisível e imprevisível parecem dessa maneira corporificar-se. A violência, descrita na forma de uma entidade