O lugar da política na sociabilidade contemporânea
A política parece estar em um lugar problemático na sociabilidade contemporânea. Insistentemente ela tem sido instalada no registro da crise, quase em situação de não-lugar. O colapso das energias utópicas, a derrocada das grandes narrativas, a depressão dos sujeitos políticos, a insatisfação com as práticas de representação, as repetidas denúncias de corrupção, o desencanto com os políticos profissionais aparecem apenas como algumas das inúmeras interpelações endereçadas à política pela contemporaneidade.
A circunstância atual apresenta assim visível contraste com a emergência, a conformação e mesmo a exaltação da política acontecida na modernidade. O contraponto entre a situação contemporânea e a era moderna indica, mais uma vez, o estatuto problemático da política hoje e, em seqüência, coloca em cena uma das questões mais agudas a ser trabalhada: a crise da política aparece como um questionamento da política moldada na modernidade ou como um impasse da política ``tout court'' ?
A hipótese assumida e desenvolvida neste texto opta pela primeira alternativa, pois propõe que o registro da crise indica esgotamentos na atividade política, especialmente em sua modalidade conformada na modernidade, cuja herança marca ainda hoje a política que realizamos. A hipótese formulada tenta reter exatamente esse mal-estar derivado da inadequação entre uma atividade política, com formatação oriunda da modernidade, e uma contemporaneidade, conformada por outras espacialidades e campos de força.
Em tempo simultâneo, as novas configurações societárias - neomodernas ou pós-modernas - põem novos desafios em cena e possibilitam dar sentido às mutações em profundidade que hoje perpassam o campo político.
Este texto privilegia como alternativa interpretativa para a compreensão da mutações da política na atualidade, dentre outras possíveis, aquela que se centra na conexão contemporânea entre política, sociabilidade e