O livro Melancolia e apocalipse
Nesses ensaios escritos entre 1992 e 2006, o autor enfrenta os dilemas da crítica de arte de maneira constitutiva, isto é, no próprio ato da leitura, o que resulta em um método dotado de um fio condutor coerente pois baseado em princípios filosóficos e estéticos que norteiam a leitura das obras; ou seja, as leituras aqui realizadas exibem um eixo hermenêutico preciso e claro, mesmo que por vezes o autor resvale para um perspectivismo de fundo nietzschiano, recusando qualquer espírito de sistema e concorde com Fernando Pessoa no Livro do desassossego de que "os sentidos possíveis são muitos", já que os homens exprimem apenas "uma nota à margem de um texto apagado de todo".
As escolhas feitas por Santos recaem evidentemente em autores cujas obras possuem um forte acento filosófico. Mas, para Leonel dos Santos, toda autêntica obra de arte é uma "meditação sobre o mundo"; ou, para usar linguagem kantiana, toda obra dá a pensar. Um pensamento que não é atividade passiva, recolhimento ou distanciamento, mas gestus, intervenção criativa no mundo; o que significa, ainda em termos kantianos, que por meio da estética, tratamos sim da arte, mas, indiretamente, também da esfera da razão prática e do campo da moralidade. É o que se verifica em Antonio Vieira, no qual história bíblica, história profana,