O lado obscuro da gestão de talentos
A preocupação com o talento é a nova ortodoxia da gestão americana. Ela é a justificativa intelectual de porque valorizar tanto os diplomas de quem se forma no primeiro terço das melhores escolas de administração e de porque os pacotes de remuneração dos altos executivos são tão generosos. Na empresa moderna, o sistema é considerado tão forte quanto forem suas estrelas e nos anos mais recentes essa mensagem tem sido pregada pelos consultores e pelos gurus da administração no mundo inteiro. Ninguém, porém, disseminou essa idéia com tanto empenho como a consultoria McKinsey e, dentre todos os seus clientes, uma empresa tomou essa preocupação com o talento no âmago de suas ações. Era uma empresa onde a McKinsey conduziu 20projetos diferentes, onde ela faturava até 10 milhões de dólares anuais, onde um diretor da McKinsey participava regularmente das reuniões do conselho de administração e onde o próprio presidente da empresa tinha sido um antigo sócio da McKinsey. A empresa era, indubitavelmente, a Enron. O escândalo da Enron é bem conhecido. As reputações de Jeffrey Skilling e Kenneth Lay, os dois mais altos executivos da empresa, foram destruídas. A Arthur Andersen, a empresa de auditoria externa da Enron, acabou por perder todos os seus contratos e sair do negócio de auditoria externa e depois as investigações se voltaram para os banqueiros de investimento da Enron. O único parceiro da Enron que escapou praticamente ileso foi a McKinsey, o que é esquisito, já que foi ela que praticamente criou a matriz para a cultura organizacional da Enron. A Enron era a ‘empresa dos talentos’ por excelência. Quando Skilling criou a divisão corporativa conhecida como Enron Capital and Trade em 1990, ele decidiu ‘trazer um fluxo constante dos melhores alunos formados no mestrado e na graduação de Administração que pudessem ser encontrados para compor o estoque de talento da empresa’. Durante os anos 90, a Enron trouxe 250 Mestres em