O homem da câmera

RESENHA DO FILME “O HOMEM DA CÂMERA” (Человек с киноаппаратом)

Dziga Vertov (Дзига Вертов) é um cineasta russo no contexto das transformações ocorridas após a Revolução de 1917, com a criação da União Soviética. Vertov buscou em sua trajetória artística romper com a estética do que chamou de “cine-drama burguês” e aproximar-se de uma linguagem propriamente cinematográfica, que utilizasse os recursos específicos da câmera para entender o mundo sob uma nova perspectiva. Interessava-lhe observar a realidade explorando possibilidades técnicas da câmera tais como a inversão de imagens, controle de velocidade e sobreposição.
A ideia de realidade, para Vertov, está ligada ao conceito de cinema-olho (киноглаз, “kino-glaz”), ou seja, um “registro absolutamente espontâneo dos fatos”, sem “dramatização”, tornando a câmera onipresente com o objetivo primordial de explorar os “fatos vivos”. Sua obra inicia-se em 1919, com Kino Nedelia, A Semana no Cinema (Кинонеделя) com destaque ainda para Cinema-Olho (Кино-глаз) de 1924, Kino-Pravda (Киноправда) de 1925, e O homem da câmera (Человек с киноаппаратом) de 1929. Este último, Vertov inicia proclamando um arcabouço ideológico que direciona esta produção, assim como já havia feito em seus manifestos Nós de 1922 e Kinoks: uma revolução de 1923. O próprio filme é um grande manifesto de Vertov e suas frases iniciais declaram que o filme é um experimento em cinematografia do mundo real, sem utilizar recursos como legendas, roteiro ou elementos teatrais. A tentativa é de estabelecer uma linguagem verdadeiramente cinematográfica separada da literatura e do teatro. O personagem principal desta produção é o cinema. É um afastamento das influências que poderiam desviar a película de sua vocação natural, aquilo que se encontra através do cinema e por nenhum outro meio. A trilha sonora entra no filme ao toque de uma orquestra. Ao longo do filme mantém-se vibrante alternando entre momentos com e sem percussão. Em determinado