O reflexo no espelho: um olhar sobre a modernidade

768 palavras 4 páginas
O tic-tac do relógio. A cidade. O proletariado das fábricas dorme nas ruas, pobre. Desfilam os automóveis, atropelando as assimetrias sociais. O fumo, a máquina de costura industrial, o embalamento, a produção repetitiva e em série. A máquina de escrever e a imprensa, o telefone, os automatismos e a electricidade. A central e a barragem. O caminho de ferro, a locomotiva e o comboio, a alta velocidade. O grande navio. O eléctrico corre entre a multidão, em ruas de trânsito e de negócio. O capitalismo, as lojas e o comércio. O ascensor. A tecnologia e o ritmo imparável, sempre incessante. A avioneta: o homem voa, desbrava os céus e ultrapassa os seus limites. O soutien. O bâton. A emancipação da mulher, a igualdade de direitos. A beleza. A preocupação estética, o bom corpo. O desporto: a ginástica, a bicicleta, o salto em altura, o lançamento do dardo, dos pesos. O futebol, o basquetebol. A higiene: o banho, o lavar dos dentes. A diversão, o carrossel, o fazer praia. O lazer. As evoluções e as conquistas de um século, as transformações de toda uma sociedade.

Um dos maiores feitos do século XX, contudo, foi a capacidade de o Homem se encarar a si próprio, de se pensar a si próprio. Para isso muito contribuiu a fotografia e, posteriormente, o cinema, a captação de imagens em movimento. A câmera de filmar foi, por isso, uma invenção tremenda.

O Homem da Câmera de Filmar representa esse olhar do Homem sobre a modernidade e sobre si mesmo. Ao mesmo tempo, quebra o tradicional conceito de montagem invisível, tal qual Ford a baptizara, e aposta em elevar o conceito de cinema à plena autonomia de parentes próximos como a Literatura ou o Teatro: para Dziga Vertov, não é imprescindível a conexão literária ou a representação dramática por actores. A imagem, o fotograma, é por si só de uma riqueza incomensurável e a montagem é o motor de um filme, a sua marca estética por excelência. O cinema não deve esconder a câmera e ocultar a mimesis, deve assumir-se enquanto

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