O governo de jango
Dois ‘aniversários’ ajudam-nos a compreender tal interesse: os quarenta anos do golpe militar de 1964, rememorados em 2004; e os trinta anos da morte de Goulart, completados em 2006.
Do ponto de vista historiográfico, a imensa maioria dos estudos tratou do governo Goulart justamente nos marcos de um processo que culminou com o golpe. A análise do período de exercício da presidência por Goulart a partir de suas características, independentemente do desfecho golpista, é um importante sinal de que o teleologismo vem sendo superado. De qualquer forma, seria ainda muito precipitado produzir um balanço da bibliografia que toma o período presidencial de Goulart per si de forma isolada dos trabalhos que o examinam tendo como marco fundamental o golpe.
Quanto ao peso das ‘comemorações’, devemos considerar que tais datas só geraram reflexões porque há uma demanda — acadêmica e social — por
De uma forma geral, esse marco interpretativo permanece importante, por enfatizar dimensões econômicas, políticas e sociais do golpe, entendido em meio à análise de um processo mais amplo. Leituras reducionistas, que deram exagerado peso a apenas um desses conjuntos de fatores, foram criticadas com razão, mas não constituíam o padrão das análises, que costumaram apontar para a múltipla causalidade na explicação do processo que culminou com o golpe.No entanto, algumas das derivações dessas interpretações eram bastante problemáticas, como aquela que reduzia as formas organizativas dos trabalhadores a um modelo de ‘sindicalismo populista’.
Na década de 1980 surge a mais abrangente e significativa análise sobre as articulações entre setores das classes dominantes e militares, resultando no golpe de 1964, escrita por René Dreifuss.3 Esse autor demonstrou que os empresários brasileiros agiam politicamente de forma organizada e