O fracasso escolar: a quem atribuir?
Rosalina Carvalho da Silva*
RESUMO
Este estudo analisa a questão da psicologização do fracasso escolar. Para isto foram analisados os motivos para 131 solicitações de atendimentos psicológicos à crianças e adolescentes, em um serviço público de saúde do município de Ribeirão
Preto, São Paulo. O maior número de solicitações ocorreu em relação ao sexo masculino,e faixa etária de maior concentrção foi a de 7 a 12 anos,com 71,4 por cento de queixas de aprendizagem, todas ligadas a problemas de desajustes escolares. A principal fonte de encaminhamentos para esses atendimentos psicológicos foi a Escola.
Com base nos dados obtidos neste e em outros estudos semelhantes discute-se o modo limitado como alguns educadores " a priori" interpretam os problemas escolares de crianças e adolescentes como psicológicos: questão da "psicologização" do fracaso escolar nos serviços básicos de saúde .
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INTRODUÇÃO
Parece que a propensão do sistema escolar ao constatar as dificuldades escolares é além de marginalizar a criança, chamar seus responsáveis e atribuir causas a questões de ordem familiar.
Em levantamento efetuado em uma UBS (Unidade Básica de Saúde), no município de Mauá (Grande São Paulo) constatou-se que 62.7 por cento da demanda geral ao serviço psicológico, no período de dezembro de 1989 a março de 1991 correspondia à faixa de 0 a 15 anos. Desta demanda, 60 por cento das queixas apresentadas ao serviço referiam-se a problemas de aprendizagem de crianças e jovens de 8 a 15 anos, encaminhados pela Escola Pública (Boarini et al, 1990)..Em 1991,
Machado em sua dissertação de mestrado, realizou um levantamentojunto a psicólogos que trabalham em UBS estaduais e municipais da capital de São Paulo, e constatou que
70 por cento das crianças que chegam a essas Unidades, buscando atendimentos, são encaminhadas pelas Escolas. As queixas apresentadas por essa clientela eram 50 por cento relativas a problemas de