O espírito do capitalismo
O Brasil está sendo objeto de um cerceamento progressivo da liberdade de escolha, que atinge contextos tão díspares como a escolha propriamente individual até uma presença cada vez maior do Estado na esfera econômica. A Anvisa, por exemplo, crê-se autorizada - e edita uma resolução - proibindo a venda de remédios que não necessitam de receita na frente do balcão, local de livre opção. Proíbe também a venda de balas e chocolates. Os cidadãos são tomados como idiotas, incapazes de decidir por si próprios. Ao mesmo tempo, o governo edita um decreto, o PNDH-3 que, em nome da democracia, procura minar as bases mesmas da democracia representativa, visando a instituir no Brasil uma espécie de República sindical ou dos conselhos.
O perigo está no enfraquecimento do espírito do capitalismo, pois ele pode levar consigo as instituições democráticas. O capitalismo não reside apenas no seu "corpo", constituído pela economia de mercado, mas também na sua "alma", formada pela liberdade de escolha e por um conjunto de atitudes, hábitos e instituições que lhe dão sustentação. Pode perfeitamente ocorrer que um Estado autoritário capture o espírito do capitalismo tornando-o socialista, enquanto etapa preliminar de um controle maior dos cidadãos e da própria economia de mercado. Um corpo sem alma seria uma presa fácil.
Isso é particularmente claro no que diz respeito à liberdade de escolha. Pode-se dizer que a liberdade de escolha é o princípio mesmo do espírito capitalista. Liberdade de escolha que se opera sobre bens materiais e imateriais, bens tangíveis e intangíveis. A liberdade de escolha de bens materiais é aquela que se torna mais visível nas operações de uma economia de mercado, quando um cidadão compra ou vende algo. Temos o conjunto de transações que constituem a economia mesma de mercado, ancorada que está neste significado da liberdade de escolha.
A liberdade de escolha no sentido imaterial concerne à escolha de crenças, de um(a)