O espetáculo das raças - Introdução, 2º capítulo e último capítulo
Em seu livro (também tese de Doutorado), Lilia Moritz aborda as teorias raciais que tratavam da mestiçagem presente nas raízes da formação do Estado brasileiro em diferentes épocas, mais especificamente no período compreendido entre 1870 e 1930 com a finalidade de “entender a relevância e as variações na utilização desse tipo de teoria no Brasil” (p.14).
No século XIX o crescente número de mestiços no Brasil era causa de preocupação, pois se pensava que a “mistura de raças” trazia consigo uma série de malefícios ao País. Como exemplo, ela aponta a Louis Agassiz que afirma:
"que qualquer um que duvide dos males da mistura de raças, e inclua por mal-entendida filantropia, a botar abaixo todas as barreiras que as separam, venha ao Brasil. Não poderá negar a deterioração decorrente da amálgama das raças mais geral aqui do que em qualquer país do mundo, e que vai apagando rapidamente as melhores qualidades do branco, do negro e do índio deixando um tipo indefinido, híbrido, deficiente e energia física e mental" (1868:71).
“O cruzamento das raças era entendido como uma questão central para a compreensão dos destinos da nação” (p.14). O embranquecimento era tido por solução; através de inúmeros cruzamentos, o Brasil, um dia, viria a ser um “País Branco”. Em uma coincidência sarcástica, a década de 1970 fora marcada pelo adentramento de ideais positivistas-evolucionistas que tinham nas teorias raciais um papel fundamental e pela Lei do Ventre Livre.
Entretanto, o final do século anunciava mudanças no cientificismo brasileiro: as teorias importadas da Europa passaram a ser duramente criticadas, pois não se aplicavam ao País. Até então, havia uma questão contraditória: o determinismo via na existência de raças “inferiores” uma maldição para o Brasil; o positivismo