o enigma do homem
MARGEM, SÃO PAULO, No 16, P. 51-63, DEZ. 2002
DOSSIÊ: CONSCIÊNCIAS DO MUNDO — CLAUDE LÉVI-STRAUSS
Claude Lévi-Strauss e as anamorfoses do mito1
MARIZA WERNECK
Resumo
O artigo pretende demonstrar que, ao construir sua ciência, Claude Lévi-Strauss afasta-se das categorias utilizadas pelos estudos tradicionais do mito e cria singulares ferramentas epistemológicas, sugeridas pela música, pelas ciências naturais, e pelas artes plásticas. Essas ferramentas, que podemos denominar operadores estéticos, iluminam, de forma exemplar, o processo de dissolução que sofre a matéria mítica ao transformar-se no tempo e no espa ço. Ao estabelecer essa nova forma de pensar o mito, que reconcilia a experiência sensível com a inteligível, Lévi-Strauss prop õe a superação da permanente dicotomia entre saber arcaico e moderno, entre pensamento mágico e científico, entre magia e ciência. Palavras-chave: mito; pensamento mítico; transformações; anamorfoses; mitol ógicas. Abstract
The article intends to demonstrate that, when building her science, Claude Lévi-
Strauss abandons the categories used by the traditional studies of the myth and creates singular epistemological tools, suggested by the music, by the natural science and by the plastic arts. These tools, which we can denominate aesthetic operators, light up, in exemplary way, the dissolution process that suffers the mythical matter when transforming in the time and in the space. When establishing that new form of thinking, the myth, that reconciles the sensitive experience with the intelligible, Lévi-Strauss proposes to overcome the permanent dichotomy between knowing archaic and modern, between magical and scientific thought, between magic and science.
1. Este artigo faz parte, com algumas modifica- ções, da tese de doutorado: Mito e experiência: operadores estéticos de Claude Lévi-Strauss, defendida na PUC-SP em novembro de 2002.
MARGEM, SÃO PAULO, No 16, P. 51-63, DEZ. 2002