O discurso
DISCURSO, ENUNCIADO, TEXTO
1. A noção de discurso
Desde o início deste livro estamos tratando não da linguagem nem da língua, mas sim do que chamamos discurso. O que se entende por isso?
Os empregos usuais
No uso comum, chamamos de "discurso" os enunciados solenes ("o presidente fez um discurso"), ou, pejorativamente, as falas inconsequentes ("tudo isso é só discurso"). O termo pode igualmente designar qualquer uso restrito da língua: "o discurso islâmico", "o discurso político", "o discurso administrativo", "o discurso polémico", "o discurso dos jovens" etc. Nesse emprego, "discurso" é constantemente ambíguo, pois pode designar tanto o sistema que permite produzir um conjunto de textos, quanto o próprio conjunto de textos produzidos: "o discurso comunista" é tanto o conjunto de textos produzidos por comunistas, quanto o sistema que permite produzir esses textos e outros ainda, igualmente qualificados como textos comunistas.
Um certo número de locutores conhece também uma distinção que vem da linguística: a distinção entre "discurso" e "narrativa" (ou "história"). Essa distinção estabelecida por Émile Benveniste é, com ta
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ANALISE DE TEXTOS DE COMUNICAÇÃO
DISCURSO, ENUNCIADO, TEXTO
efeito, amplamente explorada no ensino médio.* Ela opõe um tipo de enunciação ancorado na situação de enunciação (por exemplo, "Você virá amanhã") a um outro, isolado da situação de enunciação (por exemplo, "César atacou os inimigos e os venceu") (ver capítulo 10, item 1).
Nas ciências da linguagem
Atualmente vemos proliferar o termo "discurso" nas ciências da linguagem. Emprega-se tanto no singular ("o domínio do discurso", "a análise do discurso" etc.) quanto no plural ("os discursos se inscrevem em contextos" etc.), conforme ele se refira à atividade verbal em geral ou a cada evento de fala.
A noção de "discurso" é muito utilizada por ser o sintoma de uma modificação em nossa maneira de conceber a linguagem. Em grande parte, essa modificação resulta da