O discurso feminino na idade média
Profª Sonia Maria de Almeida (UniP)
I – Preliminares
Muito se fala hoje a respeito do papel que a mulher desempenha na sociedade. Trata-se, pois, de uma verdadeira revolução feminina, iniciada, de forma sutil, com a sua participação efetiva no mundo do trabalho, após a revolução industrial. É o que vemos nos grandes centros, onde a mulher procura assumir sua condição de pessoa, com todas as suas limitações e potencialidades, lutando por seu espaço, pelo reconhecimento de suas aptidões e capacidade. Ocorre, todavia, que essas observações nos levaram a pensar sobre o discurso feminino medieval, especificamente, o discurso poético peninsular, do qual afirmamos que o homem se apropriou ou modificou de acordo com sua cosmovisão, na passagem da oralidade para a escrita. Embora, encontremos vasta bibliografia abordando o medievalismo, pouco se sabe a respeito do discurso feminino da época. Após inúmeras leituras de Cantigas de Amor, Cantigas de Amigo e de Escárnio e Maldizer fixaram nossa investigação nas Cantigas de Amigo, consideradas as mais autênticas das poesias líricas peninsular, escrita em Galego-português e, retratando o cotidiano da sociedade medieval. É uma tarefa árdua, visto a dificuldade em captar a "alma" das produções líricas. Para tanto, há que se fazer um mergulho no século XIII, no seu contexto histórico-cultural, a fim de entendermos melhor esse momento. Nesse sentido, fez-se necessária à retomada ao galego-português, às condições genéricas de produção e às informações da Literatura Portuguesa, sem as quais não seria possível detectar as características desse discurso múltiplo e polissêmico, infinitamente criativo, criado para a oralidade e registrado em língua arcaica. Desse modo, vamos esboçar, num primeiro momento, um quadro histórico-cultural da Idade Média Peninsular, assim, desvelando aspectos institucionais desse período na Península Ibérica, conhecer as condições genéricas