O Direito
Em que pese o status de ficção, um dos pontos fortes da obra – e é isso que a torna interessante para uma análise da “pureza” do Direito – é a ausência de romantismo ao relatar os bastidores do Poder Judiciário.
O nome original do filme (“O advogado do Lincoln” é a tradução literal), é uma tentativa de evidenciar os adjetivos de Mick Haller. Sagaz, embora não tão bem-sucedido, o advogado usa o próprio automóvel (um Lincoln antigo) como escritório e vive em busca de dinheiro fácil, defendendo gangsters, prostitutas, imigrantes, traficantes e outros desprivilegiados, criando situações para aumentar sorrateiramente seus honorários. Não é à toa que no Brasil o livro ganhou o justo título de “Advogado de Porta de Cadeira”.
Em certa medida, Haller ilustra o “grosso” trabalho dos criminalistas atuais: a advocacia, de um modo geral, já não oferece remuneração compatível com o status que um dia ostentou e nem se resume em promover discursos eloquentes nos tribunais de juri. Para sobreviver no ramo, o advogado de porta de cadeia precisa farejar e criar boas oportunidades em meio à uma clientela formada por pessoas de baixa renda. Nesse sentido, Haller emperra o andamento dos processos dos clientes, inventa custos inexistentes com peritos e faz de tudo para aumentar seu faturamento, mesmo que isso retarde a soltura daqueles que o remuneram. A ausência de culpa na busca por dinheiro não é exclusiva do advogado: o filme mostra em várias passagens como os servidores da justiça prestam serviços mais