O dionisíaco e o apolíneo em nietzsche

O DIONISÍACO E O APOLÍNEO EM NIETZSCHE
(Breves palavras)

1.1. A influência heraclitiana na filosofia de Nietzsche

A proposta da filosofia de Nietzsche foi a de romper com a tradição metafísico-racional que há muito acompanhava o pensamento filosófico ocidental. Sua crítica concentrou-se na concepção de que haveria um modo metafísico de compreensão da existência, sendo esta baseada em um conjunto de formas acabadas, prontas para serem conhecidas pelo homem de maneira racional. Sendo assim, seria possível não apenas compreender a existência como também corrigi-la. Para respaldar sua crítica e propor algo novo, Nietzsche vai até a Grécia Antiga, buscar nos pré-socráticos, uma alternativa a esta compreensão da existência. Sua principal fonte de inspiração será Heráclito de Éfeso: No conceito de jogo do Heráclito encontra Nietzsche a sua mais profunda intuição da realidade do mundo como grandiosa metáfora cósmica. Ele sente-se aparentado a Heráclito na “concepção fundamental estética do jogo do mundo”. “Aquilo que ele [Heráclito] contemplou”, diz Nietzsche com a maior seriedade, “a presença da lei no devir e do jogo da necessidade, será a partir de agora contemplado eternamente: foi ele quem levantou o pano deste espetáculo sublime”. [1]

Complementando a citação de Fink, Scarlett Marton afirma: “A recusa da dualidade de mundos, a negação do ser e a afirmação do vir-a-ser, esses seriam os pontos fundamentais que o filósofo alemão considera comuns ao seu pensamento e ao de Heráclito.”[2] Sendo assim, Nietzsche recorreu com entusiasmo ao filósofo Pré-socrático Heráclito para auxiliá-lo na formulação de uma concepção da existência que privilegia o vir-a-ser em detrimento do ser. Estes pontos fundamentais conduziram o pensamento nietzschiano ao resgate de uma cultura grega arcaica que, segundo o próprio autor de O Nascimento da tragédia, expressava com louvor essa concepção fluídica da existência, que representou