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[pic]É de autoria do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) a frase "a arte existe para que a realidade não nos destrua"; Nietzsche acreditava que somente a arte poderia oferecer aos homens força e capacidade para enfrentar as dores da vida, fazendo-os "dizer sim" à ela. A própria vida, argumenta, justifica-se enquanto fenômeno estético - o mundo é um acontecimento estético. E é se voltando para os gregos antigos que Nietzsche faz um elogio da arte, destacando o seu papel "redentor". Mas não é a Grécia da escultura clássica - tão romantizada - que o filósofo elogia, e sim a Grécia pré-socrática, da tragédia antiga. Nela, o destino do herói é sofrer; desse modo, o espectador aceita o sofrimento como parte da vida, e resiste à ele. Ao apreciar uma obra como, por exemplo, Édipo-Rei, de Sófocles (496 a.C. - 406 a.C.), dobramos nossos pensamentos de repugnância a respeito do horrível. É na tragédia ática que, segundo Nietzsche em seu livro O Nascimento da Tragédia, se encontram sintetizados dois impulsos artísticos existentes na própria natureza: o apolíneo e o dionisíaco. Os termos são inspirados em Apolo (imagem) e Dioniso, deuses da mitologia grega. O primeiro pode ser associado à "luminosidade", racionalidade, à sabedoria, às artes plásticas, à estética do sonho, à busca pela perfeição da forma. É pela presença do apolíneo na natureza que cada coisa possui um contorno específico, distinguindo-se de todas as outras; por isso, Nietzsche identifica Apolo como o deus do princípio de individuação, princípio pelo qual, nas palavras do próprio filósofo, "nos sentimos indivíduos colocados em um ponto preciso do espaço e do tempo". A arte apolínea (a epopéia de Homero, por exemplo) seria então um impulso de ordenação do "caos da vida" - uma justificação estético-racional originada na perplexidade diante da