Resenha - Nascimento da Trágedia, NIETZSCHE.
I
A afirmação de que o pensamento de Friedrich W. Nietzsche, com suas penetrantes considerações, é capaz de estremecer a estrutura de nossas verdades – por vezes, fazendo-as ruir -, de por em “xeque” opiniões pacificadas pelo tempo e pela tradição e até de fazer sangrar convicções filosóficas ossificadas naqueles mais dogmáticos, não chega a ser algo revolucionário na análise dos textos nietzscheanos. Entrementes, sem dúvida, essa afirmação deve ser compreendida como uma espécie de “companheiro fiel” daqueles que se propõem a se debruçar sobre qualquer de suas obras. É preciso, pois, estar preparado e disposto para ser levado a reflexões, literalmente, sui generis. Em “O Nascimento da Tragédia ou Helenismo e
Pessimismo”, sua primeira grande obra, Nietzsche não age de forma diferente. Apesar de o próprio autor ter atribuído duras críticas ao texto em sua revisão feita dezesseis anos depois da primeira publicação, no Nascimento da Tragédia, ele nos apresenta um verdadeiro manancial de reflexões filosóficas a partir de questionamentos sobre a arte, mas que a transbordam e atingem, de modo profundo, a condição verdadeiramente humana.
O Nascimento da Tragédia, como o próprio nome sugere, caracteriza-se como um texto no qual a origem da tragédia no mundo grego é a investigação que moverá as reflexões de Nietzsche. Por isso, no começo do texto, em sua “Tentativa de Autocrítica”, ele questiona:
Gregos e obras de arte do pessimismo? A mais bem-sucedida, a mais bela, a mais invejada espécie de gente até agora, a que mais seduziu para o viver, os gregos – como? Precisamente eles tiveram a necessidade da tragédia? Mais ainda – da arte? Para que – a arte grega?... 1
Ora, se é a partir dessas inquietações que ele partirá, vemos que o fenômeno da arte trágica não está, de modo algum, em jogo isoladamente; a problematização proposta nos termos supracitados carrega consigo também inquirições acerca da dimensão da existência humana. Nessa reflexão sobre