O cuidado de si e o cuidado do outro
A “modernidade” não é primariamente um termo que denote um período ou uma época histórica, mas uma atitude, um modo de se relacionar com a realidade contemporânea, ou seja, um ethos.
Nestes termos, o cuidado de si é necessariamente uma prática de liberdade. Assim, interessa saber não apenas como o sujeito humano entra em jogos de verdade que assumem a forma da ciência ou de práticas de controle, mas avaliar também as relações entre o sujeito e esses jogos de verdade através das práticas de si. A prática de si deve ser entendida como uma prática de auto-formação não coercitiva, como uma prática ascética que não implica uma moral de renúncia, mas como um exercício de si sobre si pelo qual o sujeito tenta elaborar-se, transformar-se e ascender a um modo de ser singular. No mundo greco-romano, o cuidado de si foi o modo pelo qual a liberdade individual se refletiu com ética. Já na nossa sociedade, ao contrário, a partir de um certo momento, o cuidado de si tornou-se algo um tanto suspeito. Ocupar-se de si mesmo passou a ser uma prática voluntariamente denunciada como uma forma de amor de si, de egoísmo ou de interesse individual, em contradição com o interesse que deveria ser dedicado aos outros ou com o necessário sacrifício de si. Tudo isso se passa durante o cristianismo, onde o cuidado de si passa pela renúncia a si, mas não se deve exclusivamente a ele.
O cuidado do outro
Embora o cuidado de si seja de uma certa maneira ético em si mesmo, ele implica relações complexas com outros, na medida em que o ethos da liberdade é também uma maneira de se cuidar dos outros. Isto concerne fundamentalmente á arte de governar, já que a “governamentabilidade” supõe o encontro entre as técnicas exercidas sobre os outros e as técnicas de dominação exercida sobre os outros e as técnicas de si, isto é, a interação que se opera entre si e entre os outros.
A “governamentabilidade” implica a relação de si a si, o que significa justamente que através desta