Ética e política em michel foucault
A avaliação crítica da trajetória de Foucault, em meados dos anos 1970, após a publicação de Histoire de la séxualité, v. I (1976), era a de que ele chegara a um impasse, no sentido de que seria impossível ir além do próprio poder, a não ser que houvesse uma mudança de rumo.
A introdução do conceito de cuidado de si, nos dois últimos volumes de Histoire de la séxualité (ambos de 1984), em vez de ter sido apresentada como uma alternativa àquele impasse, parecia mais indicar uma linha de fuga malfadada, uma idealização da cultura clássica muitas vezes espiritualizada e apaziguada em comparação à constituição política do sujeito moderno, enfatizada na sua analítica do poder.1 Provavelmente, porque as interpretações que geralmente têm sido atribuídas ao cuidado de si parecem não se conformar com a vida militante do pensador, com suas intervenções a respeito da política de sua época, sobretudo nas declarações e entrevistas desconcertantes sobre o socialismo francês dos anos oitenta, sobre os direitos humanos, sobre a esquerda francesa, mas também sobre o liberalismo clássico e o neoliberalismo contemporâneo. Além disso, esse desconforto é acentuado porque, nas ciências humanas, sociais e biomédicas, o cuidado de si é associado à terapia, normalmente referido ao cuidado do corpo e da saúde psíquica; já na área da filosofia, ele tem sido abordado em comparação ao conhecimento de si e seu recorrente contraste entre o antigo imperativo socrático e o "momento cartesiano".2
Pensamos que essas interpretações da trajetória do