O cristianismo e a arbitragem
Com mais de 2 bilhões de adeptos no mundo, dos quais 160 milhões estão no Brasil¹, o cristianismo, em hipótese alguma, pode ser considerado uma mera religião, não somente pelo número vultuoso onde as infinitas relações humanas e interinstitucionais geram intermináveis atos jurídicos, mas pela sua própria gênesis e constituição como corpo social e visível, quer como organização católica, quer como protestante, com normas de estrutura hierárquica e orgânica, tudo regido pelas suas próprias normas.
O cristianismo, como dogma subjetivo, traz em seu cerne a sua própria materialização. O corpo social e visível, resultado dessa materialização, é chamado pela Bíblia Sagrada, base primordial do cristianismo, como Corpo de Cristo. As normas de sua estruturação, e regência das relações de seus membros, também tem, como base primordial, a Bíblia Sagrada que, por sua vez, requer a aplicação de uma justiça, frente a casos concretos, nos seus próprios moldes e de forma objetiva, tendo como alicerce o amor, exigindo, ainda, a solução da lide pelos seus próprios juízes contemporâneos:
Se algum de vocês tem queixa contra outro irmão, como ousa apresentar a causa para ser julgada pelos ímpios, em vez de levá-la aos santos? Vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo? Se vocês hão de julgar o mundo, acaso não são capazes de julgar as causas de menor importância? Vocês não sabem que haveremos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas desta vida! Portanto, se vocês têm questões relativas às coisas desta vida, designem para juízes os que são da igreja, mesmo que sejam os menos importantes. Digo isso para envergonhá-los. Acaso não há entre vocês alguém suficientemente sábio para julgar uma causa entre irmãos? Mas, ao invés disso, um irmão vai ao tribunal contra outro irmão, e isso diante de descrentes! O fato de haver litígios entre vocês já significa uma completa derrota. Por que não preferem sofrer a injustiça? Por que não preferem sofrer o prejuízo?