O crime do padre amaro
Publicado em 1876, O Crime do Padre Amaro pertence à fase realista de Eça de Queirós. Nessa obra o alvo de sua crítica é o clero, pois enfoca a vida de Amaro, um padre hipócrita, corrompido, porque vive num meio que não lhe permite desenvolver positivamente o caráter; torna-se inescrupuloso. Com isso, Eça discute o problema da ausência de vocação para o sacerdócio e o conseqüente drama do celibato clerical. Portanto, deve-se considerar que o alvo da crítica de Eça não é propriamente o padre Amaro, mas a sociedade que o criou e deformou. Por aí se vê que o romance de tese tem um fim moral: criticar o meio social que produz indivíduos como Amaro.
As personagens seguem o princípio naturalista de que o caráter das pessoas depende de sua origem, educação e temperamento.
Amaro Vieira, personagem principal, possuía um aspecto físico que o destinava à vida eclesiástica e era psicologicamente resignado com o seu destino. Filho da criada predileta da marquesa de Alegros (adotado por ela após a morte dos pais), é educado por padres. Com a morte da marquesa, torna-se sacerdote por comodismo, embora não pretendesse seguir a vida eclesiástica. É nomeado então para uma paróquia pobre e depois para Leiria. Lá, conhece Amélia, filha da S. Joaneira (concubina do cônego Dias). Educada por padres amorais e velhas carolas e possuindo uma sensibilidade mal controlada, Amélia mostra-se muito semelhante à natureza de Amaro.
Fica muito clara a antipatia do narrador pelo círculo de amigas da S. Joaneira (Maria Assunção, Josefa Dias, Joaquina Gansoso e o beato homossexual Libaninho). O mesmo ocorre em relação aos colegas de Amaro (cônego Dias, padre Natário e padre Brito), pois o narrador parece convencido antecipadamente dos seus vícios e grosserias. O único religioso que se exclui desse círculo é o abade Ferrão, apresentado como uma personagem coerente com seus ideais. A ironia do narrador não é restrita aso religiosos,