O Corte
Bruno Davert é um profissional realizado e pai de família feliz. Até o dia em que o perde o emprego que tinha há 15 anos numa fábrica de papel. Após dois anos e meio de desemprego, nos quais ele cumpre, devotadamente, o ritual de enviar currículos e comparecer a entrevistas aparentemente sem-fim, ele tem uma idéia no mínimo macabra: eliminar os concorrentes com currículo tão bom ou melhor que o seu, "facilitando", desta forma bem pouco usual, a sua contratação no cargo tão sonhado.
Desesperado, ele arquiteta um plano para conseguir um emprego: eliminar (matar) concorrentes que podem, eventualmente, tirar sua vaga em uma futura entrevista. Assim, ele anuncia um emprego falso no jornal, e conforme as respostas vão aparecendo, ele monta um painel de suas vitimas.
O que mais impressiona em "O Corte" é como ele consegue retratar perfeitamente o drama hoje vivido por milhões de pessoas no mundo, que é o do Desemprego globalizado e desesperançado. Está tudo ali: a gradual perda da identidade e da auto-estima, a corrosão dos valores, o efeito desagregador na estrutura familiar, a preocupação em manter as "aparências" e o lento e inexorável resvalar dos personagens para a insanidade e para o desespero. Mais ainda, ao longo do filme, por diversos momentos, somos instigados a refletir sobre questões absolutamente presentes nos dias de hoje, como, por exemplo, o fim do contrato de trabalho, a impessoalidade dos processos seletivos, e a atmosfera de altíssima competitividade reinante tanto dentro como fora das organizações modernas.
ATENÇÃO: Reví o filme. A última cena mostra de forma irônica que os métodos que ele utilizava para arranjar emprego poderiam estar sendo utilizados por outras pessoas e que ele poderia estar sendo alvo de outro deseperado, enfim, a próxima vítima. Repare que ele