O conceito de violência de Hannah Arendt
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A reflexão sobre violência perpassa a obra de Hannah Arendt, como conseqüência de seu pensar sobre a liberdade. Hannah Arendt já alertara para a falta de grandes estudos sobre o fenômeno da violência e a conseqüente banalização do conceito. Segundo esta autora, a violência caracteriza-se por sua instrumentalidade, distinguindo-se do poder, do vigor, da força e, mesmo, da autoridade. A política constitui-se o horizonte de interpretação da violência, que não é nem natural, pessoal ou irracional. A violência contrapõe-se ao poder: de forma que onde domina um absolutamente, o outro está ausente. A reflexão de Hannah Arendt sobre violência fornece um referencial teórico, a partir da filosofia política, para entender o fenômeno na sua complexidade e amplitude. Percebe-se, igualmente, como o pensamento de Arendt funda uma caminho de ação no campo da educação em vista de uma intervenção na realidade de violência social. Uma educação que não efetiva o discurso e a ação, onde os sujeitos não são protagonistas, isto é, detentores da palavra e autônomos em seu agir, é uma educação que perpetua e reitera a violência dentro e fora dela.
1. A reflexão sobre a violência na obra de Hannah Arendt
Para apreendermos o conceito de violência na obra de Hannah Arendt ou qualquer outro aspecto que decorra do seu pensamento, é preciso tomar consciência do ângulo a partir do qual ela percebeu o trabalho de filosofia política que se propôs realizar. Em “Entre o passado e o futuro”, este ponto nos é dado quando ela afirma que “para as questões da Política, o problema da liberdade é crucial” (EPF, p, 191). De fato, o tema da liberdade não apenas é privilegiado em sua obra, mas constitui-se em chave hermenêutica de seu pensamento.[5]
O pensar a liberdade e seus desdobramentos constitui-se o horizonte hermenêutico no qual devemos situar a violência, a qual, embora não se constitua seu objeto temático, é abordada no conjunto de sua reflexão política. Por esta razão, o conceito de