O capote em diferentes percepções Em 1842 Nicolai Gogol escreveu o que viria a ser uma obra prima da literatura russa. O conto O capote relata a história de um funcionário público, de nome Akaki Akakievitch, que não se enquadrava nos parâmetros da sociedade russa da época, portanto era tratado com indiferença e humilhação pelos colegas de trabalho, e não só por eles, mas por todos que estavam ao seu redor. Akaki Akakievitch é um típico trabalhador do modelo mecanicista do século XIX, que tem o trabalho como única preocupação, mesmo que esse não lhe faça evoluir como pessoa, e é visto apenas como “máquina de reprodução” para a elite, que se encarrega do controle sobre os demais e do desfrute sobre o que é produzido pelos considerados inferiores, que por não terem muito o que fazer contra a situação, admitem a sua submissão como algo natural, tanto que, como acontece com Akaki, deixam de ser capazes de fazer qualquer coisa que fuja do rotineiro: “Sua única existência se mede pelas folhas que copia. Corre a pena por sobre o papel em branco com o mesmo carinho e a mesma habilidade com que o homem apaixonado usa a magia da mão carinhosa para compor páginas inumeráveis de poesia sobre o corpo da mulher amada... Akaki Akakievitch leva uma existência de extrema pobreza, que é proporcional à sua indigência linguística. Por sua vez, essa indigência de linguagem é proporcional à ausência de consciência: não tendo consciência do seu estado de humilhado – e por não ter consciência não tem linguagem porque nada tem a expressar -, está fadado à condição de homem socialmente nulo, que não tendo como justificar a existência nem ter direito a nenhuma pretensão, nada pode suscitar a não ser compaixão.” (BEZERRA,Paulo. O capote e outras novelas, 1990, p. 24-25.) A personagem em determinado momento da história se vê diante de um objetivo, o que parece ser o primeiro em sua vida, que até o momento não mostrava ter nenhum sentido. Ele, por não