O barroco no brasil
No Brasil, a escola barroca é frequentemente chamada de Escola Baiana. Isso se deve ao fato de o centro de irradiação cultural e de produção literária do século XVII ser Salvador, capital da colônia.
Grande parte da produção poética do século XVII está relacionada às academias e tem um valor sobretudo histórico. Destacam-se os poetas Manuel Botelho de Oliveira (Música do Parnaso, primeira obra poética brasileira a ser impressa) e Manuel de Santa Maria Itaparica (autor do poema “Descrição da ilha de Itaparica”).
O principal autor barroco foi Gregório de Matos, considerado um dos mais importantes poetas de nossa literatura colonial. Sua obra foi conservada em cópias manuscritas do século XVIII. As tentativas de edição das obras completas, ainda muito insatisfatórias, só ocorreram no século XX.
A volumosa produção poética atribuída a Gregório de Matos revela o espírito barroco do autor na escolha pelos temas controversos: poesia religiosa (sacra), poesia lírico amorosa, poesia satírica. Em razão de suas sátiras e de sua poesia erótico-pornográfica, o poeta é conhecido pelo apelido de “Boca do Inferno”.
O “Boca do Inferno” não perdoava ninguém: ricos e pobres, negros, brancos e mulatos, padres e freiras, autoridades civis e religiosas, amigos e inimigos, todos, enfim, eram objeto de sua “lira maldizente”. O governador da Bahia de 1690 a 1694, Câmara Coutinho, por exemplo, foi assim retratado:
Nariz de embono
Com tal sacada,
Que entra na escada
Duas horas primeiro
Que seu dono.
Este soneto de contrição é um dos mais conhecidos poemas de Gregório de Matos e segue o modelo conceptista de Quevedo. Nas questões a seguir procuraremos acompanhar os meandros do raciocínio engenhoso de um pecador que advoga sua causa, procurando convencer a Deus de que merece o seu perdão.
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar