O Barril de Amontillado
seguido por mim.
Num instante atingira o extremo do nicho, e vendo que não podia continuar
por causa da rocha, ficou estupidamente desorientado. Um momento mais e
tinha-o agrilhoado ao granito. Havia na parede dois grampos de ferro,
distantes um do outro, na horizontal, cerca de sessenta centímetros. De um
deles pendia uma pequena corrente e do outro um cadeado. Lançar-lhe a
corrente em volta da cintura e fechá-la foi obra de poucos segundos. Ficara
demasiado surpreendido para oferecer resistência. Retirei a chave e recuei.
- Passe a mão pela parede - disse eu. - Não deixará de sentir o salitre. Na
realidade está muito úmido. Mais uma vez lhe suplico que nos retiremos. Não
lhe convém? Nesse caso, tenho realmente de o deixar. Mas, primeiro, quero
prestar-lhe todas as pequenas atenções ao meu alcance.
- O amontillado! - berrou o meu amigo, que se não recompusera ainda do
espanto em que se encontrava.
- É verdade - respondi. - O amontillado.
Ao dizer isto, pus-me a procurar com todo o afã por entre as pilhas de ossos de
que já falei. Atirando com eles para o lado, pus a descoberto uma quantidade
de pedras e argamassa. Com estes materiais e com a ajuda da minha trolha,
comecei a entaipar com todo o vigor a entrada do nicho.
Mal tinha colocado a primeira fiada de pedras quando descobri que a
embriaguez de Fortunato tinha em grande parte desaparecido. A este respeito,
o primeiro indício foi-me dado por um longo gemido vindo da profundidade
do recesso. Não era o gemido de um ébrio. Sucedeu-se um prolongado e
obstinado silêncio. Pus a segunda fiada de pedras, a terceira e a quarta. Em
seguida ouvi as vibrações furiosas da corrente. O ruído prolongou-se por
alguns minutos, durante os quais, para me ser possível ouvi-lo com maior
satisfação, suspendi a minha tarefa e sentei-me no montículo de