O amor para Sartre
O amante quer ser amado, é um querer ser amado pelo outro que também, em seu amor, deseja um “querer ser amado”. O seu amor por mim é “querer ser amado” tal como o meu amor por ele é um“querer ser amado”. Todo “querer ser amado” implica na pretensão última de possuir a liberdade do outro. Implica que todo “ideal” de amor se pauta no insucesso. O amante quer possuir-me como um objeto para si, mas um objeto que o ame incondicionalmente, em mesma medida o outro estabelece o seu “querer ser amado”, é um jogo de negação da liberdade um do outro. Possuir me como corpo e consciência para si, eis o desejo último do amante, pelo qual jamais poderá ser satisfeito, nem mesmo na relação sadomasoquista.***Enquanto ao enamoramento ficar delegado esse amor construído com ideais que jamais poderão ser satisfeitos, a miséria nas relações será dominante. Em contrapartida, um enamoramento que se sabe ser firmado por conflitos e não na plenitude, que se faz no aqui-e-agora e não em valores carcerários, poderá satisfazer-se com um “não querer mais do outro” senão compartilhar perspectivas diferentes e daí tirar múltiplas potências para o viver. Por assim dizer, um ser companheiros de existência em detrimento de um ser namorados compromissados com um futuro idealizado.
Se o outro me ama, decepciona-me radicalmente por seu próprio amor: eu exigia dele que fundasse meu ser como objeto privilegiado,mantendo-se como pura subjetividade perante mim; mas, desde que me ama, ele me sente como sujeito e se afunda na sua objetividade diante de minha subjetividade. O problema de meu ser-para-outrem fica, pois sem solução. Os amorosos ficam cada um por si numa subjetividade total. – O Ser e o Nada,