O AMOR NUMA PERSPECTIVA EVOLUTIVA
César Ades
Instituto de Psicologia, USP
Os machos da espécie de sapos dendrobatídeos dedo-azul, que vivem no meio das folhas, no chão da floresta, nos arredores de Manaus, e têm apenas um centímetro e meio de comprimento, exibem, na época do acasalamento, alguns dos traços básicos do comportamento sexual tal como se manifesta em muitos animais . São chamados dedo-azul (cientificamente: Colosthethus caeruleodactylus) porque os machos, de colorido marrom, adquirem, na época do acasalamento uma cor azul brilhante nos dedos dos pés, característica que serve de sinal de gênero. Se outro macho penetrar no território, mesmo que silenciosamente, será atacado pelo residente, atiçado pelas suas marcas azuis. As fêmeas nunca são agredidas, são cortejadas através de um canto suave, bem diferente dos apitos com os quais o macho defende seu território. Logo que a fêmea se aproxima da região que o macho escolheu como ninho, ele começa a coaxar em jeito de namoro e consegue fazer com que o siga, a uma pequena distância, até o ninho. Lá, “começa um jogo de sedução, que se inicia pela manhã, entre 10 e 12 h, e termina no fim da tarde ou ma manhã seguinte.... No ninho, a fêmea se movimenta bastante, ficando de lado, de costas e de frente para o macho. Nos dois últimos casos, a fêmea esfrega o focinho ou a cloaca no peito do macho, sem que ele a toque. O macho fica ereto sobre as quatro patas, emitindo o son de namoro e flexionando as patas traseiras. Em nenhum momento do acasalamento, o macho sobre no dorso da fêmea como acontece com a maioria dos sapos....” (p. 67). Depois da desova (de 10 a 30 ovos), a fêmea abandona o ninho. Tudo o mais depende da iniciativa do macho, que fertiliza os ovos e que deles cuida, hidratando-os com sua urina e defendendo-os dos predadores. “Entre 25 e 40 dias depois da oviposição, o macho recruta seus girinos para um dos momentos mais fascinantes deste cuidado – o carregamento dos filhotes para a água.