O AMBULANTE Eu sou um homem que vendia produtos e utensílios domésticos de porta em porta, em uma cidade pacata. Todas as manhãs, logo cedo, me deslocava pelas ruas de larguras variadas. Sempre vestido em roupas simples e protetoras. O sol escaldante não permite um alívio se quer. A cada dia decidia por onde começar, a depender das vendas ou cobranças. Mas tudo segue um padrão, monótono e calmo. Logo já via o levantar de alguns raios inquietos e impiedosos ao bater no meu corpo, já surrado por cansaço. Mas isso não me permitia desanimar, tenho um motivo maior para seguir. Casa, alimentação, família e satisfação de um serviço humilde, porém, honesto. Lembro-me bem, “época de política”. Candidatos entusiasmados e sorridentes. Milagres, obras “sonrisais”, acusações, escândalos e “maquiagens”, eram o que mais se viam acontecendo na cidade. Eu, tentando procurar na “paisagem” alguma coisa que pudesse atrair o olhar ou passar o tempo mais depressa, para que logo o sol se fosse e eu pudesse parar de maltratar os olhos. Não se via mais do que cartazes, adesivos, carros de som, “barulho e baixaria” nas ruas, antes tão calmas, nos dois anos anteriores. Com o passar das semanas, fui recolhendo das vias públicas, calçadas e das mãos desesperadas dos militantes partidários, “santinhos” de inúmeros candidatos da eleição que aconteceria em breve. Certo dia, esperando calmamente uma senhora que tinha acabado de entrar em sua casa para pegar o meu pagamento, me distrai ouvindo a conversa de dois cidadãos que estavam na calçada da frente, discutindo sobre o futuro da cidade, se fosse colocada nas mãos de um determinado candidato. Enquanto um alterava o tom de voz por não concordar com o outro, este respondia ironicamente: – Calma rapaz, o tempo de sementes e mudanças estão de passagem! E você, já decidiu em quem votar?
Nesse momento, vários carros passaram pela rua onde acontecia essa conversa e o meu aguardo pelo dinheiro. Isso impediu