E o Vale era o Escravo
E o Vale era o
Estado
Vantuil Pereira*
Resenha recebida e aprovada em agosto de 2010.
SALLES, Ricardo. E o vale era o escravo. Vassouras, século XIX. Senhores e escravos no coração do Império. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2008.
Em um contexto de uma indiscutível crise da história, o debate sobre a teoria da história e da historiografia tem-se desenrolado a partir de antinomias como invenção ou ciência, narração ou explicação, verdade ou ficção. As teorias holísticas são desprezadas em nome de novos enfoques que priorizam o recorte, as diversas verdades da história.
Como dizia Carlo Ginzburg, deixa-se de olhar a história como apalpadelas, isto é, a história como um permanente processo de reconstrução, com intensas reformulações e aberta ao novo. Característica menos de uma crise e mais de uma vitalidade e renovação, típica de uma área de conhecimento que, desde o início do século XX, sabemos que não se iguala à área das ciências exatas.
Josep Fontana já nos alertara para o fato de que a superação da crise da história não pode basear-se na negação global das produções anteriores e a sua apressada substituição por achados pontuais - que só responderiam a uma pequena parte dos nossos problemas como historiadores. A superação exige um esforço sério para recuperar os fundamentos teóricos e metodológicos sólidos, e, sobretudo, o contato com os problemas reais dos homens e mulheres de nosso tempo, dos quais as tendências pós-modernas têm nos distanciado1.
De outro lado, temos perdido a capacidade de observarmos o desenvolvimento historiográfico, as continuidades e insights propostos por autores pretéritos, que nos permitem enveredarmos pelos acúmulos e renovações surgidas a partir de velhas tradições.
Considerando especificamente a historiografia da formação do
Estado nacional, da construção da nação brasileira, da cidadania no
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Professor Adjunto do NEPP-DH/UFRJ, do Programa de