A voz escrava na historiografia
Grande parte da historiografia produzida anterior aos anos de 1980 acreditava que os escravos eram sujeitos passivos da história, seres desprovidos de vontade própria, incapazes de atitudes políticas e indiferentes à sua condição refletindo, portanto esta ideia do “escravo coisa”. Podemos citar como exemplo dessa visão de escravo, Fernando Henrique Cardoso, em seu estudo Capitalismo e escravidão no Brasil meridional, no qual o autor argumenta que o escravo era tido como morto ou que não tinha nenhuma representação, que se tornou coisa ao longo da escravidão, um ser desprovido de ações autônomas e totalmente passivo às imposições do sistema escravista. Partindo do que foi apresentado acima, o objetivo deste trabalho é demonstrar que os escravos não eram tidos como “mortos”, mas que detinham uma grande representação, destacando, portanto como a historiografia brasileira passa-se a dedicar e a analisar a figura dos cativos, suas experiências e percepções, observando-os, deste modo como sujeitos ativos da história e capazes de organizar estratégias cotidianas de resistência à opressão do sistema escravista. Para isto será feito uma análise historiográfica dos trabalhos de RODRIGUES (2000), CASTRO (1995), REIS (2003) e GOMES (1996).
Rodrigues (2000) fundamenta seu trabalho por meio de refutações. A primeira refutação que este autor levanta, e que segundo ele é a mais recorrente entre os historiadores é a do mito de que o fim do tráfico atlântico fosse uma fase previsível e necessária no projeto maior de terminar com a instituição. Ou seja, o tal ''gradualismo'' na ação política que deu fim ao regime de cativeiro - com a sequência de leis que foram minando o escravismo - foi uma visão, como deixa claro o autor, do após 1888, e não uma política seguida a risco pela elite dirigente do Estado. Para Rodrigues (2000), isto não passava de instrumentos para evitar ao máximo o fim da escravidão.
Em seu estudo, Rodrigues (2000) vai