A transferência e um caso de homossexualismo em uma mulher
Freud descreve um caso de homossexualismo em uma mulher no volume XVIII de suas obras completas. Trata-se de uma mulher de dezoito anos que é levada para terapia por seus pais, já que esta apresenta excessivo interesse por uma “dama da sociedade” dez anos mais velha que ela. Seu pai apresentava uma grande amargura por esta condição da filha; estava determinado a combater este homossexualismo de todas as formas possíveis, até mesmo obrigando sua filha a se casar para despertar os instintos naturais da moça, se fosse necessário. Sua mãe, por sua vez, era “uma mulher jovem, evidentemente pouco disposta a abandonar seus próprios direitos à atração” (FREUD, 1920) e que tratava sua filha de maneira áspera, enquanto apresentava excessiva indulgência com seus outros três filhos.
Freud apresenta já no início do texto as dificuldades que tal processo analítico irá apresentar, primeiramente por não ter partido da própria paciente a busca por auxílio. Para a situação ideal de análise se apresentar, é preciso que a pessoa esteja sofrendo de um conflito interno e busque por auxílio médico. Neste caso, a jovem não estava doente; o que os pais da paciente esperavam do processo analítico era uma transformação de uma variação da organização genital da sexualidade em outra, o que, de acordo com Freud (1920), não compete à Psicanálise. A postura de Freud diante do pedido de análise produzido pelos pais da paciente, portanto, foi de isenção, se propondo a iniciar o processo terapêutico, mas sem garantias de realizar as expectativas depositadas por eles neste processo. É importante observar que, neste caso, a paciente foi direcionada para a terapia não por anseios próprios, mas por uma vontade de agradar aos pais, que se sentiam muito desgostosos com a homossexualidade da filha. Porém, apesar da presença destes impulsos libidinais (amor e consideração por entes queridos), dificilmente estes impulsos