A teoria do valor
Ernest Mandel
O conceito de «excedente» é hoje comumente utilizado pelos antropólogos e os especialistas das sociedades primitivas, no sentido mais elementar, isto é, a parte da produção social que ultrapassa as necessidades imediatas do consumo da sociedade. Visto que a sociedade primitiva, na qual o «excedente» aparece pela primeira vez é uma sociedade sem classes, o consumo polos produtores (isto é, a reconstituição da força de trabalho e a reprodução do número respectivo de produtores) e o consumo social são em grande medida equivalentes. Neste sentido, o «excedente económico» abrange o mesmo conceito socioeconómico do conceito marxista de sobre produto, esta parte do produto social que ultrapassa o «produto necessário».
A excepção das sociedades primitivas mais atrasadas, o «produto necessário» tem não obstante ainda outra função a desempenhar, a de reproduzir as capacidades produtivas da sociedade. Tem ainda de garantir a exacta substituição de todos os meios de produção empregados no processo social de produção.
Quanto mais uma sociedade se desenvolve, tanto mais esta segunda função se torna importante. Numa sociedade capitalista, o produto necessário inclui o capital constante e o capital variável (C + v), isto é, a reprodução do trabalho morto e do trabalho vivo necessário para reconduzir a produção ao mesmo nível do ciclo precedente. Isto assegura o que Marx chama a «reprodução simples». O sobre produto representa a diferença entre o valor do produto social C + v + s e o valor do produto necessário. A diferença é igual a s, a mais-valia. De facto, a mais-valia é simplesmente a forma específica sob a qual o sobre produto é apropriado na economia capitalista.
Baran e Sweezy não contestam esta definição. Repetem-na nas páginas 8-10 do seu livro. Acrescentam que preferem o termo «excedente» ao termo «mais-valia», porque «a maior parte das pessoas familiarizadas com a teoria econômica