A rua da amargura
O sentimento individualizado e universal, de “amor à rua” , fascina pela sua legitimidade. E ao mesmo tempo faz pensar: existe alguém que não ame uma ruazinha sequer?
Ao ler o texto, antes mesmo de chegar neste propriamente dito, na parte do título onde há a palavra rua, só aí nestas três letras, lidas de uma única vez, inspira o próprio sentimento de rua: ruazinha, rumo, lá na rua, ir-se embora, estar lá fora.
É uma construção que tem um objetivo simples, que é nos levar a determinado lugar, e ao mesmo tempo, nenhum, pois depende de nós o destino que damos à ela. Lembrei-me do quanto brinquei na minha infância na rua – é que a “rua” dos “Manezinhos” é tudo o que está fora de casa e meu pai vivia me corrigindo, pois eu pedia: - Posso ir brincar na rua?E ele me respondia: Você quer dizer lá fora? – então pode, mas na rua não é lugar de ficar, a rua é feita para os carros passarem. Mas seria ela só um lugar de passagem?
Enganou-se meu pai. Onde eu morava a rua era de barro e areia e para as crianças terreno perfeito para fazer “bocas” para bolinha de gude, “jogar taco”, saltar dentro das poças de lama em dia de chuva, seguir o riacho feito pela união da água das calhas das casas. Aprender a cantar e a dançar, passear e fazer amigos.
Tocou-me o sentimento do que ficou para trás, se bem que rua é aquela onde se pode passar, ir e voltar e até parar.Na lembrança é esta impressão : que o tempo parou.
Pensando nas pessoas, histórias vividas e quase esquecidas, uma coisa é certa: - sei que tudo se passou lá fora ; na “rua”.
Quando li os poemas rimados do autor João do Rio (2008), como os que agente faz quando ama alguém e ainda não sabe muita coisa sobre a vida, mas que quando crescemos, vemos o quanto sabiamos mas nem percebemos. Assim também é com a rua, um sentimento de pertencer a ela para sempre, e depois se arrepender de ter se desfeito deste amor, por nunca mais ter passado por lá. Mas no fundo não amamos a memória daquele lugar, mas de