Se o carnaval do Rio de Janeiro é o maior evento pagão do mundo, a Semana Santa de Sevilha é a maior festa cristã do planeta. As analogias não ficam por aí. Ambas são celebrações populares de massa, celebradas principalmente nas ruas, atraindo multidões de participantes. Em Sevilha, este ano, as celebrações começam no dia 1º de abril estendendo-se até o dia 8 do mesmo mês. Uma semana inteira dedicada à paixão cristã, durante a qual a população da cidade, somada a milhares de visitantes, revive o martírio de Jesus. Os andores dos santos são verdadeiras obras de arte sacra Uma celebração dedicada à dor e ao sofrimento? Nada mais longe disso. Em Sevilha, o espetáculo da morte e da ressurreição de Cristo reveste-se de grandeza estética e vibrante fervor popular. Os participantes querem – e muitas vezes conseguem – experimentar emoções muito raras, aquelas que só acontecem em certos momentos de transe místico. O evento é celebrado há séculos, e sua origem ao que tudo indica remonta ao século 14. Desde então, entre o Domingo de Ramos e o Domingo da Ressurreição, com percursos, dias e horários bem determinados, os membros de 57 confrarias religiosas saem de suas igrejas e vão às ruas em procissões de penitência, conduzindo seus santos, Virgens e Cristos padroeiros à Catedral de Sevilha. Nas calçadas, janelas, terraços e balcões por onde passam os cortejos, a multidão espera e não arreda pé. Tais procissões acontecem em todos os horários, pela manhã, à tarde e à noite. Mas é sobretudo nas madrugadas que o fervor e a energia mística atinge os seus níveis máximos, e não é necessária ao participante nenhuma sensibilidade especial para que os arrepios sejam sentidos junto à curiosa sensação de ser transportado para algum plano dimensional bem diferente do comum. Nas procissões, os 'penitentes' cobrem a cabeça com o capuz tradicional
Procissões e mistérios A maior parte das confrarias levam em procissão dois mistérios (nome com o qual se designa o andor com suas