A República
PLATÃO, A República, Livros V-VII, Trad. Maria Helena Da Rocha Pereira, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2012, 13ª Edição
O presente trabalho tem o seu enfoque nos livros V-VII daquela que é considerada a obra maior de Platão e um dos textos, também maiores e de cariz fundador, do pensamento e cultura ocidentais, A República. No conjunto da obra do autor, o texto em questão insere-se nos chamados diálogos de maturidade (ao lado de O Banquete, Fédon e Fedro) e é nela, especificamente nos livros que nos propomos analisar, que encontramos a sistematização da denominada Teoria das Ideias ou das Formas, a nosso ver o culminar do pensamento precedente de Platão e objecto do presente trabalho. Começamos no entanto com algumas considerações prévias que julgamos importantes, de modo a precisar e iluminar o nosso ponto de partida.
Do título “A República”
Dados os quase dois mil e quinhentos anos que nos separam da obra, e para que a leitura se nos torne clara e concisa, aproximando-nos da visão do autor, importa recuar no tempo, para do seu título - no original grego Politeia – reter apenas o significado que um grego médio lhe atribuía. Apontamos por isso para o sentido etimológico da palavra: “constituição” ou “forma de governo” de uma polis ou cidade-estado, ou seja, de um lado sublinhamos os fundamentos, as leis pelas quais se rege a comunidade sem indicar quais sejam elas, do outro sublinhamos apenas a forma ou modo de organizar o governo da comunidade, sem delinear os seus contornos. Daqui concluímos a impossibilidade de ler no título A República, uma forma de governo especifica, nem sequer aquela que o autor nos propõe, pois acreditamos, que na continuidade dos chamados diálogos aporéticos, também aqui não é imposto ao interlocutor(es) algo já definido, antes aponta e nos introduz no próprio acto de constituir, levando-nos directamente para o terreno das considerações e motivações que nos devem guiar, onde a dialéctica assume o seu