República
LIBERDADE EM TRÊS VERTENTES
DO NOVO REPUBLICANISMO*
Ricardo Silva
Introdução
Não é nova a interpretação que apresenta o pensamento político de Maquiavel como o mais notável exemplar do ressurgimento da concepção republicana de liberdade. Já em meados do século
XVI, poucas décadas depois da morte de Maquiavel, Giovani Busini, um republicano opositor dos
Médici, retratava-o como “o mais extraordinário amante da liberdade” (apud Baron, 1961, p. 217).
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Versão anterior deste artigo foi apresentada no 32º
Encontro Anual da Anpocs. Sou grato aos coordenadores e participantes do GT Teoria Política: além da democracia liberal?. Agradeço também aos colegas do
NEPP/UFSC, especialmente a Gustavo Althoff, pelas discussões em torno do tema deste artigo e pelo auxílio na tradução das citações.
Artigo recebido em novembro/2008
Aprovado em dezembro/2009
Um século mais tarde, escritores como James Harrington e John Milton chamavam a atenção para as preferências republicanas do autor dos Discorsi, ao mesmo tempo em que se inspiravam em suas lições para a justificação das pretensões do parlamento contra a coroa no contexto revolucionário inglês. No século das luzes, poucos anos antes da eclosão da Revolução Francesa, Rousseau dava ainda mais ênfase à integridade republicana de Maquiavel, afirmando que mesmo em O Príncipe, sua obra aparentemente mais pró-monárquica, o autor,
“fingindo dar lições aos reis, deu-as ele, e grandes, aos povos” (Rousseau, s/d, p. 78).1
Contudo, ao longo de quase cinco séculos, a interpretação republicana do pensamento político de Maquiavel jamais foi forte o bastante para se sobrepor ao retrato convencional, que chega a apresentar o florentino como um dos mais inescrupulosos conselheiros de tiranos de todos os tempos.
Tal visão do sentido moral e político das idéias de
RBCS Vol. 25 n° 72 fevereiro/2010
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