A relação entre sociedade e Estado no Brasil no final do século XX
O início da década de 1980 marcou um período de transição no cenário político brasileiro, o qual teve por estopim as tentativas de rechaçar a crise gerada pela incapacidade de quitar a dívida externa. Também ressurgia na sociedade um sentimento de mobilização, até então abafado por um Estado desenvolvimentista e autoritário, que regia em pormenores cada campo da sociedade, desde a economia até a cultura popular. No entanto, mesmo esse novo fator de insurgência popular não foi suficiente para impedir o processo de liberalização econômica, que se deu como tentativa de enfrentamento da crise dos anos de 1980 e se concretizou na década de 1990. A nova conjuntura econômica se fez excessivamente inflacionária, de maneira que sobrecarregou tanto a população (em especial, os assalariados) quanto as empresas privadas e estatais. Deu-se espaço para mais tumulto popular; tumulto orquestrado, agora, por uma oposição partidária e direcionado para a democratização. Neste sentido, destaca-se a campanha “Diretas Já”, que deu ainda mais legitimidade ao plano democrático. O governo, contudo, acabou por contornar as pressões e conseguiu manter a população de fora do processo de eleição presidencial, mas, ainda assim, a proposta de um governo civil e de oposição – já defendida pelos partidos oriundos do MDB – ganhou o apoio do PFL, frente liberal que havia recentemente se desassociado do ARENA, de forma que o Colégio Eleitoral teve força para eleger Tancredo Neves, também extremamente apoiado pela elite e pela população. Com a morte de Tancredo Neves pouco antes de sua posse, José Sarney assumiu o governo e foi obrigado a se alinhar à onda de redemocratização: restaurou as eleições diretas e acabou com a censura. O novo empoderamento popular foi atiçado pelo não sucesso dos planos econômicos (aqui, destaca-se o Plano Cruzado) e se viu um aumento considerável no número de greves e manifestações. O mesmo empoderamento