A questão da fidelidade
Qualquer texto, “literário” ou não, somente poderá ser abordado através de uma leitura ou interpretação. Um texto não é um receptáculo de conteúdos estáveis e mantidos sob controle, que podem ser repetidos na integra. É impossível resgatar integralmente as intenções e o universo de um autor, exatamente porque essas intenções e esse universo são sempre, inevitavelmente, nossa visão daquilo que possam ter sido. Todo leitor ou tradutor não poderá evitar que seu contato com os textos seja mediado por suas circunstancias, sua concepções, seu contexto histórico e social.
O autor passa a ser mais um elemento que utilizamos para construir uma interpretação coerente do texto. Isso não significa que devemos ignorar ou desconsiderar o que sabemos a respeito de um autor e de seu universo quando lemos ou traduzimos um texto, mas que, mesmo que tivermos como único objetivo o resgate das intenções originais de um determinado autor, o que somente podemos atingir em nossa leitura ou tradução é expressar nossa visão desse autor e de suas intenções.
Contudo quando um leitor “produz” um texto, sua interpretação não pode ser exclusivamente sua, da mesma forma que o escritor não pode ser o autor soberano do texto que escreve.
A tradução seria teórica e praticamente impossível se esperássemos dela uma transferência de significados estáveis; o que é possível é, como sugere o filósofo francês Jacques Derrida, “uma transformação: uma transformação de uma língua em outra, de um texto em outro”.
Mas se pensarmos a tradução como um processo de recriação ou transformação, como poderemos falar em fidelidade? Como poderemos avaliar a qualidade de uma tradução?
Pode parecer que, ao questionarmos a possibilidade de que uma tradução seja inteiramente fiel ao texto original, estamos questionando não só a própria possibilidade teórica de qualquer tradução, mas também a possibilidade de qualquer critério objetivo para avaliarmos textos traduzidos.
Nossa tradução de