a psicologia e mito ou realidade
Na ocasião do centenário da fundação do primeiro laboratório de psicologia experimental, a psicologia científica é questionada sob um ângulo epistemológico, no que diz respeito a suas fundamentações teórica e metodológica e as suas implicações ideológicas ou "míticas". As repetidas crises desta psicologia testemunham um mal-estar profundo, relacionado com a sua entronização artificial, com a definição insuficiente e unilateral do seu objeto e com a discrepância entre a ciência e a experiência psicológicas. O contexto histórico da implantação da psicologia como ciência é lembrado, com uma analise crítica de suas premissas positivistas de abstração, objetivação e quantificação. Estas são incapazes, quando transpostas das ciências exatas ao estudo do homem concreto, de investigar as significações psicológicas e antropológicas das suas experiências vividas. Uma "psicologia negativa" deveria fazer justiça às experiências negativas e irracionais do ser humano, sendo que o pensamento mítico ilustra a tentativa do homem de dominar e representar esta irracionalidade e suas contradições, conjurada pelo cientista. Finalizando, é enfatizada a necessidade de uma epistemologização da psicologia positiva e de uma relativização das suas posições e pretensões de cientificidade.
SUMMARY
In the centennial year of the founding of the first psychological laboratory, cientific psychology is questioned from an epistemological perspective with respect to its theoretical and methodological foundations and its ideological or "mythical" implications. The repeated crises of this psychology are a testimony to its deep uneasiness which is related to artificial enthronement, its insufficient and unilateral definitions, and the discrepancy between psychological science and experience. The historical context of the establishment of psychology as a science is reviewed in a critical analysis of its positivist premises of abstraction, objectivity, and quantification. These, when