a presença do mito grego: o prometeu pós-moderno
“o princípio do mito: transforma a história em natureza. O tempo e o saber nada lhe podem acrescentar ou subtrair. Qual é a função do mito? Transformar sentido em forma. De fato, nada pode proteger-se do mito; o mito pode desenvolver o seu esquema segundo a partir de qualquer sentido, não importa qual”. 1
Introdução: a persistência do mito
O mito permanece e se impõe na nossa cultura; o homem racional, filho do iluminismo, este talvez seja o grande mito do ocidente. O romance Frankstein de Mary Shelley tem em seu subtítulo: O Moderno Prometeu, onde a escritora recria o mito de Prometeu para fazer entender a ciência e a política de seu tempo. Frankstein não é o monstro, mas o cientista que, roubando o fogo criador2 de Deus, se pretende Deus: cria a vida, artificialmente. Uma vida incompleta, atormentada. Assim como Prometeu, seu moderno sucessor, Frankstein, será severamente castigado. Em Blade Hunner, Caçador de Andróides3 vemos o Prometeu pós-moderno: androides, inconformados com sua condição de mortais, buscam no criador a possibilidade da vida eterna – que não encontram. A sequencia inicial, abertura do filme, nos mostra a sobreposição de um olho – que é Deus e também o desejo de possuir – com uma tocha de fogo, a tecné grega, o fogo criador que vai ensejar a raça humana.
O cinema vai nos carregar de mitos; um exemplo mais recente – especialmente para o caso brasileiro, é o fenômeno Tropa de Elite, 2008, que recria o mito primordial da morte ritual do rei. O Rei, já velho e incapaz – infértil – deve ser morto e substituído pelo novo, pelo jovem. O filho que deve matar o pai para poder ser homem, e reconhecido enquanto tal. O capitão da polícia, em busca da aposentadoria, procura seu sucessor – que vai passar pelo ritual de iniciação e superar suas limitações, assumindo a liderança, por final.
A morte ritual do rei é o mito primordial – tanto na Teogomia de Hesíodo, quanto nos estudos antropológicos “clássicos”, como o Ramo de