A poética do espaço
Título: A poética do espaço
O Capitulo III, tem como inicio uma crítica ao filósofo e diplomata francês Henri Bérgson (1859/1941), que utilizou a palavra “gaveta” em sentido metafórico, como sinônimo de “conceito”. Segundo o autor Gaston, as palavras, especialmente as da linguagem mais usual, têm um sentido poético próprio que é perdido quando transplantado para uma área científica ou filosófica.
O autor parte dessa crítica para distinguir “metáfora” de “imagem”.
A imagem, segundo o autor é “obra da imaginação absoluta, extrai todo o seu ser da imaginação” (p. 87), ou seja, está relacionada à imaginação, enquanto a metáfora é considerada uma “imagem fabricada” e, por isso, não faz parte de um objeto de estudo fenomenológico, “a metáfora vem dar um corpo concreto a uma impressão difícil de exprimir” e acrescenta “a metáfora é relativa a um ser psíquico diferente dela” (p. 87), sendo assim, é uma transposição. A metáfora é uma “falsa imagem”, uma vez que não desfruta da mesma virtude de uma imagem formada no devaneio (1974, p. 405).
Os devaneios da intimidade, representados segundo o autor pelos armários e suas prateleiras, as escrivaninhas e suas gavetas, os cofres e os fundos falsos não podem restringir a memória a um armário de lembranças. Ele ajusta o foco da casa abordado nos capítulos anteriores para objetos que a integram que são espaços de maior intimidade que a própria casa e por isso retém traços psicológicos, possuem uma poesia singular.
No armário, assim como na gaveta, não se guarda uma coisa qualquer, segundo o autor “só um pobre de espírito poderia guardar uma coisa qualquer”, “(...) de qualquer maneira, em um móvel qualquer” (p. 91). Esses são espaços profundos, que registram a vida de quem os possui. O Autor ressalta, “(...) a memória é um armário.”, “Quantos sonhos de reserva se nos lembrarmos, se voltarmos (...)”, “As lembranças retornam em massa quando revemos na memória a prateleira em que repousava (...)”