Poética
Marcelo Diniz
(doutorando em Ciência da Literatura, Semiologia, UFRJ)
A alegria é a passagem do homem de uma perfeição menor a uma perfeição maior.
(Definição dos afetos II. Livro II Ética)
E, de fato, ninguém, até o presente, determinou o que pode o Corpo, ou seja, a experiência não ensinou a ninguém, até o presente, o que o Corpo pode fazer pelas únicas leis de sua natureza enquanto considerada somente como corporal, nem o que não pode, a não ser ser determinada pelo Espírito.
(Escólio da Proposição II. Livro II Ética)
Espinoza
A alegria é a prova dos nove.
(Manifesto Antropófago)
Oswald de Andrade
Resumo: Pretendemos com esse estudo o exercício de demonstração disso que entendemos como uma poética da alegria apontada pela leitura de Rua do Mundo de Eucanaã Ferraz. Se, com Espinoza, concebemos a alegria como um afeto marcado pelo princípio expansivo do potencial do vivo, palmilharemos na poesia de Rua do Mundo esse mesmo princípio como modo de construção, desde os traços propriamente melopaicos à hipótese de uma arquitetura aberta, a que parece mais condizente com as imagens dialogais que perpassam o livro: a cidade e a roupa. Nossa hipótese consiste na idéia da alegria como o engendramento da dinâmica, da relação entre os espaços, dos movimentos sugeridos por essas duas imagens que se superpõem em Rua do Mundo, concebendo, sob a mediação da metáfora-roupa, uma cidade a que a alegria do corpo seja imanente.
O que salta aos olhos à primeira leitura de Rua do mundo, quarto e mais recente livro de Eucanaã Ferraz, é a alegria. Não que esse afeto esteja estampado de modo fácil e gratuito no conteúdo dos poemas, não que esse sentimento se acrescente como um caráter meramente festivo ao fazer poético. Se a alegria, a tomarmos pela definição espinozista, compreende-se como o sentimento elementar implicado em toda existência, pode-se dizer que a alegria dos poemas de Rua do mundo parece pertencer à