A personalização do poder na República Romana a partir de Júlio César (100 a.C. – 44 a.C.)
O período imediatamente pós-Júlio César, que convencionou-se chamar de “Principado romano”, assistiu a algumas mudanças no que tange à organização de poder na República Romana, mudanças essas diretamente influenciadas por diversos novos fatores, inclusive aqueles oriundos da expansão romana em torno do Mediterrâneo. Se por um lado o Senado permanece como força legitimadora e que tinge de cores ‘republicanas’ o período do principado, por outro percebem-se delegações cada vez mais constantes de poderes a determinados personagens do período, o que indicaria tanto uma personalização do poder por parte de certos indivíduos quanto uma centralização desse mesmo poder através dos anos. Em meio a este processo, também verifica-se a admissão cada vez maior da divinização do princeps1, que acompanha estritamente essa gradual personalização do poder e que aparenta ser também uma busca pela ordem após as convulsões políticas e guerras civis enfrentadas pela sociedade romana à época. Tais mudanças, no entanto, têm suas raízes nos períodos imediatamente anteriores ao Principado. Uma figura que encarna de maneira característica o período de transição pré-principado é justamente a de César, que através de façanhas militares e políticas atingiu uma posição de supremacia política na República Romana. Ele também representa de maneira bastante evidente a personalização do poder, pois foi capaz de vencer a Guerra Civil contra Pompeu com o apoio de legiões extremamente fiéis à sua figura. Essa fidelidade teria sido construída, ao longo dos anos, pelas benesses concedidas por César às suas tropas, como o assentamento dos soldados que haviam lutado sob seu comando quando do exercício do Imperium2. Para explicar a fidelidade das legiões de César e a conseqüente personalização de seu poder, no entanto, faz-se necessário um histórico que relate sua trajetória, na qual são perceptíveis