A Personagem do romance, de Antonio Candido

Fichamento
Antônio Candido – A personagem do romance

Temos, logo no início do texto, a importância do enredo e das personagens como intimamente relacionados. Para ser bem feito, um romance deve possuir três elementos centrais: enredo e personagem (representando a matéria); e ideias (representando o significado). A personagem dá vida ao romance ao viver ela mesma o conjunto formado pelo enredo pelas ideias. Porém, embora a personagem pareça ser o elemento mais vivo em um romance, é errado dizer que ela é a essência deste. A personagem não pode existir sem os outros elementos que a constituem. Mas pode, certamente, ser considerada o que há de mais comunicativo e atuante em um romance – sendo este mais expressivo entre os séculos XVIII, XIX e início do século XX. Uma vez que a personagem só atinge a plenitude de significado dentro de um contexto, conclui-se que a estrutura ainda é o que existe de mais importante na realização de um romance. A partir da noção da inexistência da personagem, ainda que esta comunique uma impressão de verdade existencial dentro da ficção, pode-se concluir também que o romance é baseado na relação entre ser vivo e ser ficcional, a qual se manifesta e se concretiza através da personagem. Entre esses dois seres existem diferenças e afinidades, ambas igualmente importantes para a impressão de verdade (ou verossimilhança). A percepção de continuidade física e da descontinuidade espiritual em uma pessoa é conflitante na medida em que sua personalidade não é percebida com a mesma unidade que suas características físicas. Essa dificuldade pode ser explicada pelo fato de que a natureza externa é finita na superfície do corpo, ao passo que a natureza interna é infinita e desprovida de uma unidade única. Infere-se daí que toda percepção de um ser por outro é incompleta e que o conhecimento de todos os seres é por si só fragmentado. Essa impressão da percepção é ainda mais evidente quando se investiga não um ser, mas um fragmento