A ORIGEM DA LINGUAGEM
Começaria eu por uma distinção que não se costuma fazer: Fala-se na “origem da linguagem”, quando se queria falar na origem, remota e primeira, das línguas.
Sim, porque linguagem é a palavra de duplo sentido, nenhum dos quais adequado à nossa indagação de hoje. Pode significar a faculdade que o homem tem de comunicar-se intencionalmente e por meio de sinais. Neste caso, a origem do homem, porque se trata de uma propriedade essencial à espécie: todos os homens têm e sempre tiveram essa faculdade.
Significa também a palavra qualquer manifestação exterior realizada por sinais, sejam eles gestuais, fisionômicos ou construídos, como as fogueiras significantes, o telégrafo de Morse, os atuais semáforos para governar o trânsito nas cidades maiores, a dupla comunicação dos surdos-mudos, através de gestos que significam letras ou dos gestos simbólicos por eles criados e que permitem uma conversa quase tão rápida quanto a nossa.
Neste segundo sentido da palavra linguagem, ela vale como elaboração concreta da faculdade, de acordo com a indústria humana, mais remota ou mais recente.
O problema que de fato se nos põe é o da origem primeira de um tipo de linguagem articulada, porque se realiza por meio de sons ou ruídos vocais, produzidos pela laringe e modificados na caixa de ressonância, fixa ou móvel, que produz, num caso, o timbre individual e, noutro caso, os diversos fonemas que constituem o sistema sonoro do idioma tal ou tal: /a/, /e/, /i/, /o/, /u/, /b/, /t/, /ç/, etc.
Vemos, pois, que a língua é uma espécie – e a mais importante – do gênero linguagem, cuja origem tem sido preocupação de filósofos e curiosidades da antigüidade, da Idade Média e dos tempos modernos.
Os lingüistas geralmente não se ocupam do problema, porque foge de suas cogitações. No