a noção de graça em Blaise Pascal
Luís César Guimarães Oliva*
Resumo: A noção teológica de graça é um elemento fundamental da concepção pascaliana a respeito da natureza humana. Segundo o filósofo, o homem está submetido a uma tendência invencível à concupiscência e ao pecado, o que se explica pela doutrina do pecado original. Como este homem corrompido não tem força própria ou livre-arbítrio para sair sozinho desta condição de miséria, somente pela graça divina há perspectiva de salvação. Deste modo, a graça não deve ser entendida como um auxílio habitual, que todos podem utilizar segundo seu livre-arbítrio, mas como uma operação divina que quebra a tendência ao pecado e impõe outra tendência, igualmente invencível, à justiça.
Palavras-chave: Pascal, pecado, graça, natureza humana.
Como é sabido de todos, a filosofia de Pascal é apresentada sobretudo nos Pensamentos, um conjunto de fragmentos preparatórios de uma Apologia da Religião Cristã, a qual ficou inconclusa. Por conseguinte, as reflexões aí apresentadas, independentemente de seu valor propriamente filosófico, estão em diálogo constante e frequentemente direto com a religião cristã e com a maneira peculiar pela qual a entendia o movimento jansenista, do qual Pascal fazia parte. Não é nosso objetivo, neste artigo, apresentar uma “teologia pascaliana”, até porque tal iniciativa, além de grande e pretensiosa demais para um artigo, talvez vá além do que a própria Abadia de Port-Royal (núcleo do movimento) esperava de Pascal.
Se estivesse buscando um teólogo, o jansenismo estaria mais bem servido
* Professor do Departamento de Filosofia da USP.
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Cadernos Espinosanos XXVI
Luís César Oliva
com outros nomes, como por exemplo Arnauld. Eram as qualidades de
deste modo, para a miséria. Se não tivesse feito isso, Adão poderia ter uma
filósofo, cientista, homem do mundo e polemista (além, evidentemente,
eternidade de vida e felicidade para si e seus descendentes. Pecando, obteve
do fervor de sua fé) que