A mulher cantada nas músicas: Evolução ou Retrocesso?
A música, assim como toda forma de arte, está em constante mudança. Com o passar dos anos, os diálogos, as expressões de linguagem, as gírias e até mesmo as cantadas mudam. É interessante notar como este último teve alterações facilmente percebidas através dos “hits” de cada década, como o perfil da mulher foi sendo alterado à medida que esta lutava para conquistar seu espaço social.
Na década de 40, o romantismo estava em alta. Nessa época, a mulher era muito valorizada, estimada e apreciada pela sociedade. Os chamados “românticos boêmios” se juntavam em grupos de amigos e preparavam serenatas para homenagear suas amadas. A simples imagem da jovem em uma varanda, ouvindo uma canção de amor, já mostra como a “moça de família” era contemplada em uma posição muito acima da do homem. “A Deusa da Minha Rua”, de Nelson Gonçalves, uma das músicas de maior sucesso dessa época, comprova a ideia de inalcançável, quando o eu-lírico compara sua amada a uma deusa, e se coloca na posição de quem não a merece: “Eu sou plebeu, Ela é nobre”.
Já a década de 50 foi marcada pela apaixonante “Eu sei que vou te amar”, de Tom Jobim. A música ainda preserva o romantismo da década passada, através da saudade do eu-lírico em relação à sua amada. Para ele, a mulher é uma coisa única, então, quando a perde, fica desolado pela saudade. Os versos “E cada verso meu será Pra te dizer que eu sei que vou te amar Por toda a minha vida” mostram a total dedicação pela mulher, sua eterna admiração.
A década de 60 trouxe outro sucesso de Tom Jobim, “Garota de Ipanema”. Nela, se percebe a admiração pelo corpo da mulher que, na música, anda de biquíni pela praia. Tal fato, por si só, já seria uma coisa inimaginável em 1940. Contudo, mesmo passando um sentido mais físico, o autor não é vulgar ao descrever a mulher. Pelo contrário, ainda consegue ser delicado: Ao chamá-la de “menina”, o eu-lírico dá a ideia de inocência, pureza e, depois, compara