A morte e a morte de quincas berro d'agua
2012
Não há clareza sobre hora, local e frase derradeira. Narrada em terceira pessoa, a obra “A morte e a morte de Quincas Berro D’Água” retrata a morte do rei dos malandros, Quincas Berro D’Água, protagonista da estória, disseminando toda a magia do ambiente, entre ladeiras e becos baianos que circunda as histórias fantásticas dos cantadores de feira, do povo humilde que se utiliza da oralidade, da notícia que ainda se leva de boca em boca. O tempo da narrativa é trabalhado de forma alinear, sem principio, meio e desfecho dos fatos. Retratada no passado, observando no trecho a seguir...
“Lembrava-se também da fisionomia do pai quando ela lhe comunicara a próxima visita de Leonardo, afinal resolvido a solicitar-lhe a mão...” O narrador na condição de onisciente apessoal nos antecipa os mistérios e as lacunas que permaneceram sem explicação na morte de Quincas Berro D’Água. Também ficamos sabendo que Quincas já teria outra morte, o que aconteceu quando abandonou a família para viver de malandragem. A filha e o genro anteciparam para a próxima geração que o avô Joaquim, homem respeitável, já havia falecido. Então, Joaquim, ao se transformar em Quincas, teria a sua primeira morte, ao se desligar da família. Se a morte não foi física, pelo menos foi moral. Quincas era uma vergonha para a família. De fato o personagem seria um recordista de morte, somando ao todo pelo menos três. Através de discurso indireto livre, o narrador nos adverte: "Não sei se esse mistério da morte (ou das sucessivas mortes) de Quincas Berro D'Água pode ser completamente decifrado. Mas eu o tentarei como ele próprio aconselhava, pois o importante é tentar, mesmo o impossível.” Vemos o perfil de Joaquim Soares da Cunha, segundo a família: de boa família, exemplar funcionário da Mesa de Rendas Estadual, ouvido com respeito, todo burguês, jamais visto em botequim. Este é o Quincas que existia, quando resolveram decretá-lo morto para a